
A Substância: Terror Corporal. Quem é fã de body horror vai se deliciar com “A Substância”, um dos filmes mais audaciosos e grotescos do gênero desde “A Mosca”, de David Cronenberg.
Por César Magalhães
Este filme, dirigido por Coralie Fargeat, apresenta uma narrativa impactante que explora a deterioração física e psicológica de uma mulher em busca de sua juventude perdida.
Com uma atuação impressionante de Demi Moore, A Substância: Terror Corporal é uma experiência cinematográfica que provoca reflexões profundas sobre a autoimagem e a misoginia.

A Substância: Terror Corporal. Uma Estrela em Declínio
O filme nos apresenta Elisabeth Sparkle, interpretada por Demi Moore, uma antiga estrela de Hollywood que agora vive às sombras de seu passado.
A história começa com a instalação de sua estrela na Calçada da Fama, um momento de celebração que rapidamente se transforma em uma reflexão amarga sobre sua decadência.
Com a idade, Elisabeth perde não apenas sua carreira, mas também sua identidade, quando um executivo, interpretado por Dennis Quaid , a considera “velha demais” para o mundo da televisão.
Essa cena inicial já nos dá uma ideia clara da brutalidade que a personagem enfrentará ao longo do filme.
A Queda e a Busca pela Juventude
Após ouvir palavras cruéis do diretor da emissora, Elisabeth entra em um estado de choque que a leva a um acidente.
Esse acidente a coloca em contato com uma intervenção estética clandestina, a “substância” do título.
Através de uma injeção misteriosa, ela dá à luz uma versão mais jovem e idealizada de si mesma, chamada Sue, interpretada por Margaret Qualley.
Essa transformação é o ponto de partida para uma narrativa que se torna cada vez mais grotesca e perturbadora.
A Dualidade de Elisabeth e Sue
A relação entre Elisabeth e Sue é complexa e multifacetada.
Embora sejam a mesma pessoa, a dinâmica entre as duas revela a luta interna de Elisabeth contra a autoaceitação e a pressão externa para se conformar aos padrões de beleza.
Através de uma série de eventos grotescos, o filme explora a ideia de que essa busca pela juventude é uma forma de autofagia, onde Sue começa a devorar Elisabeth, tanto figurativa quanto literalmente.
Uma Direção Audaciosa
Coralie Fargeat, como diretora, demonstra um controle impressionante sobre a narrativa e a estética do filme.
Sua abordagem visual é alucinatória, utilizando closes extremos e distorções de câmera para capturar a essência do horror corporal.
As cores ácidas e os sons amplificados criam uma experiência sensorial intensa, fazendo com que o público sinta cada momento de angústia e desespero.
A comparação com Stanley Kubrick em “Laranja Mecânica” é válida, pois Fargeat utiliza elementos visuais e narrativos que desafiam o espectador a confrontar suas próprias percepções sobre beleza e juventude.
Crítica à Misoginia e aos Padrões de Beleza
“A Substância” é mais do que uma simples história de horror; é uma crítica feroz à misoginia e aos padrões de beleza impostos pela sociedade.
A personagem de Elisabeth, que uma vez foi adorada, agora se vê lutando contra a repugnância que sente por si mesma e a que os outros sentem.
O filme aborda a tirania dos padrões estéticos e a internalização da misoginia, mostrando como essas pressões podem levar a um ciclo de autodesvalorização e dor.
A Representação do Corpo Feminino
Fargeat desafia a forma como o corpo feminino é apresentado no cinema, subvertendo a exploração tradicional da imagem feminina.
As cenas de Sue em seu programa de fitness, onde o foco está em seu corpo, revelam como a sociedade reduz as mulheres a meros objetos de desejo.
Essa representação crítica é uma chamada à ação, instigando o público a refletir sobre suas próprias percepções e o papel que desempenham na perpetuação desses padrões.
Uma Performance Inigualável
Demi Moore entrega uma performance poderosa que transcende as expectativas.
Sua habilidade de se mostrar vulnerável e implacável ao mesmo tempo é impressionante.
Em uma cena particularmente devastadora, ela briga com seu reflexo no espelho, lutando contra a imagem que vê.
Essa luta interna é algo que muitas mulheres podem reconhecer, e a forma como Moore a retrata é ao mesmo tempo dolorosa e reveladora.
Os 20 Minutos Finais: Uma Conclusão Controverso
Os últimos 20 minutos do filme geraram discussões acaloradas. Enquanto muitos aplaudem a ousadia, outros consideram que a direção de Fargeat se torna pueril.
A intensidade que permeou o resto do filme parece se dissipar, resultando em uma conclusão que pode parecer desconectada.
No entanto, essa mudança abrupta pode ser interpretada como uma representação da monstruosidade que se forma dentro de Elisabeth em resposta a toda a pressão e dor que ela experimentou.
Impacto e Reflexão
“A Substância” é um filme que provoca reações intensas e reflexões profundas sobre a condição feminina na sociedade moderna.
Através de sua narrativa grotesca, Fargeat nos força a confrontar os horrores da autoimagem, a misoginia e a busca incessante pela juventude.
É um filme que, embora possa ser desconfortável, é essencial para a conversa sobre o que significa ser uma mulher em um mundo que valoriza a aparência acima de tudo.
Conclusão
Em última análise, “A Substância” é uma obra singular que desafia normas e provoca discussões sobre temas que muitas vezes são ignorados. A combinação de horror, crítica social e performances impressionantes faz deste filme uma experiência cinematográfica que deve ser vista e discutida. Se você busca um filme que não apenas entretém, mas também provoca reflexão, “A Substância” é a escolha perfeita.
