Não dá para fugir do lugar comum: nem mesmo em seus sonhos mais distantes, aquele menino de 13 anos, nascido e até então criado na cidade de Cambuci, no interior do Rio de Janeiro, onde residem pouco mais de 15 mil pessoas, imaginaria se tornar um cidadão do mundo. Mais do que isso, uma referência numa arte genuína: a dança do samba.
Estamos falando de Alex Coutinho. Se hoje seu nome é sinônimo de competência e comprometimento na arte, é graças à determinação, foco e talento, ingredientes que o passista de 36 anos faz questão de repassar às mais de mil pessoas que já formou, repassando seus ensinamentos.
“Cheguei no Rio de Janeiro entre 13, 14 anos. Morava em Duque de Caxias e meu primeiro contato com o samba foi no projeto de mestre-sala e porta-bandeira da ‘Acadêmicos do Grande Rio’, na escola de samba-mirim ‘Pimpolhos do Grande Rio’, conta.
Contudo, foi na Paraíso do Tuiuti que ele teve, de farto, a primeira oportunidade de desfilar na tão almejada Avenida Marquês de Sapucaí.
“Comecei a ensaiar em 2002 e desfilei a partir do desfile de 2003. Nunca deixei de desfilar na escola”, recorda Alex.
De lá pra cá, o sambista levou seu samba no pé para diversas agremiações. Unidos da Tijuca, Unidos de Vila Isabel, Unidos do Porto da Pedra, Acadêmicos da Rocinha, Acadêmicos do Salgueiro, Engenho da Rainha e Lins Imperial são algumas delas. E foi justamente esse “corre” que trouxe à ele a experiência que precisava. Intuitivamente.
“O profissional que ‘sem querer’ me tornei, é resultado dessa junção, desse acúmulo de experiência em escolas de samba distintas”, ressalta.
A grande oportunidade de Alex Coutinho chegou em 2009. Renato Thor (presidente da Tuiuti) viu nele potencial para ser diretor da ala de passistas da agremiação. Embora não tivesse experiência alguma na função, Alex aceitou o desafio.
“Fiz tudo no tato. Não sabia, fui aprendendo aos poucos. Por eu desfilar em muitas escolas e conhecer muita gente, a ala era basicamente composta por meus amigos”, relembra.
A ala foi crescendo, ganhando componentes “da casa”, até que em 2013 Alex Coutinho, de fato, concentrou seus esforços na direção: “Passei a entender qual o trabalho de direção da ala. E com esse trabalho, acabei expandindo. Hoje dirijo também a ala de passistas da Acadêmicos do Cubango, agremiação em que estou há 10 anos”.
No mês de Novembro Alex Coutinho estampou a capa da EGOBrazil Magazine uma revista online do portal de noticias EGOBrazil
Método “Poderos” de Alex Coutinho
Atualmente o nome de Alex Coutinho é unanimidade e até mesmo selo de qualidade quando se fala em aulas de samba. Em seu currículo, estão viagens para cerca de 16 países, sempre levando a arte na ponta dos pés.
“Não tenho faculdade de dança. Aprendi a entender a dança do corpo do outro, dançando junto com minhas passistas, no tato, no olho”, revela.
A partir do desfile de 2016, ano em que a Paraíso do Tuiuti ascendeu ao Grupo Especial do Rio de Janeiro, Alex Coutinho teve ainda mais projeção e ele não parou mais, consolidando-se como professor de samba no pé.
Até que surgiu a pandemia… mas ele não deixou de exercer sua arte. Com total apoio e parceira de seu companheiro, Jorge Amarelloh, que é rei de bateria, Alex Coutinho desenvolveu um método de dar aulas on-line e acabou criando as “Poderosas do Samba”, grupo que as alunas que mantém ao redor do mundo.
“Claro que nosso foco são as aulas. Mas acabamos indo além. Conectamos todos os continentes e não nos preocupados somente com a dança e sim trazer uma coisa pro outro. Há 3 anos fazemos ações sociais na comunidade do Tuiuti, beneficiando crianças com festa da páscoa, dia das crianças e Natal. Infelizmente não conseguimos atender todos, mas aproveitamos o engajamento nas redes sociais pra mostrar um diferencial para as crianças, fazendo com que elas tenham momentos felizes. Nas comunidades, somos desprovidos de oportunidades. Há pouco acesso às coisas boas e o que podemos fazer, a gente faz”.
Alex e Jorge – juntos há 8 anos, pais do pequeno Heitor – coordenam ainda o projeto “Aos Passos do Paraíso”, ministrando aulas na quadra da agremiação. Um mix de talento e missão, que engrandece a arte e nos dá a certeza de que o samba, além de herança ancestral, é multiplicador de cultura.
Passistas do Tuiuti fazem a “Festa da Raça” no dia da Consciência Negra
Um dos segmentos mais esperados atualmente na avenida, a ala de passistas da Paraíso do Tuiuti prepara mais uma festa. Anualmente, desde que assumiu a direção, Alex Coutinho reúne expoentes não apenas da amarelo e azul de São Cristóvão, mas de todo o mundo do samba.
Este ano, a festa será numa data bastante emblemática: o Dia da Consciência Negra, 20 de Novembro. A partir das 14 horas, com atrações incríveis, os passistas pretendem celebrar as lutas e vitórias do povo preto, reunindo sambistas de várias agremiações.
Além da apresentação dos anfitriões, a festa terá show completos de Nego Damoé e Gustavo Lins. E mais: componentes da co-irmã paulistana Vai-Vai prometem um show inesquecível.
SERVIÇO:
FESTA DA RAÇA – PASSISTAS DA PARAÍSO DO TUIUTI
Shows de Gustavo Lins, Nego Damoé e Vai-Vai
Dia 20 de Novembro, a partir das 14h
Local: Quadra do Tuiuti (Campo de São Cristóvão, 33)
Ingresso: a partir de R$ 15 (1º lote)